quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Vovô Braga - 18 anos de saudades


Túmulo memorial de Antônio Ferreira Braga Filho
“Vovô”. Essa palavra me traz boas recordações e tem um significado triplo na minha vida. Foi um privilégio ter sido congratulado por ter três avôs, isso mesmo! O pai da minha mãe, Oswaldino (in memória), o marido da minha avó Lili, Antônio Vieira (esse não é de sangue, mais é meu avô por total consideração e que permanece vivo e forte), e o pai do meu genitor, Antônio Ferreira Braga Filho. É nesse último que essa palavra “vovô” tem maior sentido pra mim.

Confesso que tivemos pouco contato, porque ele morava no interior e quase não visitava a capital, Rio Branco. Saiu de Feijó só para cuidar da saúde e retornou tempos depois. Na capital, morou no conjunto Oscar Passos, na rua principal. Minha tia, Naildes Braga, na companhia da minha mãe, Dona Lora, e alguns dos meus irmãos sempre tiravam o sábado para fazer visitas a ele. Eram momentos divertidos e também cansativos. Subir a ladeira correndo, do São Francisco, não era uma tarefa fácil para um menino de seis anos principalmente quando os irmãos usavam toda a velocidade do mundo. Era longe!

Vô Braga era casado com dona Albertina (In memória), particularmente eu não gostava do jeito dela, mas, sempre tratei com respeito. Um gesto nobre de sua parte que guardo no HD da minha cachola, até hoje, era a forma como nos recepcionava. Nunca me esqueci de uma dessas visitas. Batemos palma, ele chegou ao portão vestido com shorte verde e massageando a testa dizendo que estava com dor de cabeça. O cheiro de VIC confirmava tal sintoma. Todos pediam a benção e na voz já debilitada ele fazia questão de responder um por um, mesmo que numa ligeireza. Quando chegou a minha vez, se abaixou e disse: Cadê o cheiro do vovô? Não tem não?. Lembro que dei um abraço nele, mas a barba rala incomodava e logo aquele carinho terminou.

Entramos na sua casa e minha tia danada falando dos acontecimentos da semana. Ele deitou na rede, colocou um boné azul na cabeça e ouviu a conversa toda. Meus irmãos brincavam de peteca na calçada, eu no pé da minha tia (Sempre fui muito grudado nela), minha mãe conversando na sala com dona Albertina... Até que ele me chamou, colocou no colo e perguntou:

- Você quer o bem de sua tia, quer?  - Fiz sinal de positivo com a cabeça.
- Você quer o bem da sua mãe? - Fiz sinal de positivo. E todas as vezes que ele perguntava eu analisava o significado daquelas perguntas. Elas sempre vinham com uma piscada pra minha tia. Talvez os dois combinavam, só pra saber a minha resposta.
- Você tem que cuidar delas, viu! Qualquer coisa você diz pro vovô que a gente dá um jeito. O vovô quer muito o seu bem, tá bom? – Desta vez respondi: Tá bom vovô.

Vô Braga era isso: simplório nas palavras, ao mesmo tempo, talvez pela voz, passava a impressão de que carinho e afeto eram o que importava no momento. Justiça se faça; sempre teve muito carinho pelos netos. Meus primos de Feijó ficaram responsáveis de receber boa parte desse afeto. Tenho certeza que aproveitaram. Nós da capital não tivemos muito essa oportunidade, isso ficou pro Antonio Vieira demonstrar.

Ficção. Era com ele mesmo. Vovô Braga era conhecido por contar e aumentar as “estórias”. Contava cada uma que parecia até pescador. Depois de grande, ouvi umas estórias que até duvidaria se o Brasil foi mesmo colonizado pelos portugueses.

Também era conhecido por ser um homem trabalhador. Minha vó Lili, apesar de ter seus motivos para mágoas, sempre confirmou tal adjetivo. Carteiro – foi à profissão que ele exerceu que mais admirei. Subia e descia, por dias, os rios de Feijó e região levando as correspondências numa canoa. Trabalho que ele fazia com muito esforço e esmero. Não era fácil subir por mais de 15 dias o Rio Envira. Quem mora na Amazônia sabe como isso é difícil no inverno e verão. Trabalhou também como mecânico da extinta empresa aérea Cruzeiro. Ofício que abandou depois que ela cancelou pousos e decolagens para Feijó.

Por fim, o vovô Braga morreu no dia 08 de setembro de 1998, aos 79 anos. Ainda lembro-me do choque que minha família tomou quando soubemos de sua morte. Nesse dia, eu atendi o telefone (2245813). Pediram pra chamar alguém mais velho. Minha tia, visivelmente apreensiva, pegou o aparelho da minha mão e poucos minutos, a pancada do telefone que caiu no chão ecoou no meu ouvido. O choro foi grande, o lamento também. Eu não sabia o que fazia. Se chorava com ela ou se corria até o pé de laranjeira e pegava folhas para fazer chá como sempre fazia quando Tia Naildes ficava doente. Não sai do canto. Em minutos, a mala dela estava feita, a do meu irmão mais velho, Wangley, que representou os netos que moravam na capital também estava arrumada. Eles saíram em cortejo até o Aeroporto Presidente Médici para a cerimônia fúnebre. Foi lá no saguão do aeroporto que me lembrei da fala: “O vovô quer muito o seu bem”.


09 de agosto de 2015, primeira vez na vida que pisei em Feijó. Por lá, um misto bucólico de saudade, curiosidade e medo. Talvez a ansiedade irracional de encontrar um passado que não me pertencia, me deixou assim: incompreendido. Era uma “invasão” às histórias dos meus avós? Ou um sentimento qualquer que não sei explicar? O fato é que de todos os lugares que por lá andei, foi no simplório cemitério, que nem muro existe, que animais vivem livres e passeiam entre os túmulos, que pude sentir um pouco de sua presença. Ao vovô, meu sentimento mais melancólico: A saudade.  

sábado, 16 de janeiro de 2016

Mariete e o Fusca: Uma história de amor desfeita depois de quase 40 anos


O Fusca amarelo colonial é datado de 1978 (Foto Arquivo pessoal)

A proximidade de um novo ano invariavelmente nos leva a desapegar de coisas que nos acompanham na vida. Alguns se desprendem de sentimentos negativos, outros de objetos recém-arranjados e existem também aqueles que corajosamente desapegam de bens adquiridos há muitos anos, uma eternidade.

Janeiro sempre chega encorajando novas propostas. Por algum motivo, o primeiro mês do ano parece mais propício a uma faxina. E como essa afirmativa é verdadeira! Talvez uma data para que as pessoas entendam que só há perda se há posse, e essa é apenas uma sensação.

Por onde ela passava em Rio Branco, mais precisamente na Cohab do Bosque, logo chamava atenção de todos. Loira, olhos claros, alta e com um timbre de voz marcante. Mas, não era realmente tão somente isso que atribuíam tantos olhares para a educadora, Mariete Morte da Costa, mais ronco do motor e o brilho da lataria do seu veículo, um autêntico fusca da Volkswagen adquirido na década de 70.

Nascida em Xapuri, Mariete é bem quista por amigos e vizinhos. Tem uma fama de viajante, por sempre estar de bem com a vida e ser amante de um fusca amarelo colonial. Foi no dia 07 de novembro de 1978 que essa história de amor teve início.

A amiga dela, dona Ziza Castelo, foi a responsável por essa união. Ziza atravessou a cidade e levou Mariete a uma concessionária de Rio Branco para comprar um carro. Tido como popular, fácil de dirigir, incomparável em seus traços arredondados e simpáticos, resistente na força bruta da lataria, o fusca foi o escolhido dentre tantos outros. O negócio foi feito e o consórcio garantido.

Certa vez, ao andar pelo centro, Mariete foi abordada por um cidadão que deu a notícia de que ela havia sido contemplada no sorteio. Ela estava na segunda prestação do consórcio. “Eu corri pra loja e cheguei lá o gerente realmente havia confirmado o sorteio. Fiquei muito feliz, porém, havia um problema muito grande, eu não sabia dirigir”, comenta.

Um amigo foi chamado para levar o carro até um posto de gasolina que ficava a poucos metros de sua casa. Foi justamente esse amigo que deu as primeiras aulas para Mariete, mas, ela optou por receber as instruções numa autoescola. Não demorou muito para que a máquina funcionasse e ela aprendesse de fato a manobrar o veículo. Tanto que foi a estrada de Sena Madureira a escolhida para uma corrida.

“Até que um dia eu resolvi sair sozinha pra ir à faculdade. Liguei, dei uma ré e o carro ficou com as duas rodas sem tocar ao chão, tudo por que a ré foi demais e era um local alto do estacionamento no posto. Eu gritava por socorro e uma multidão apareceu para tirar o carro daquela condição. Depois disso eu fui praticando e aprendendo a dirigir”, relata.

A nossa personagem de hoje alcançou a época em que a sociedade ainda esboçava muito preconceito por mulheres que dirigiam. Mesmo que muitas delas possuíam seus próprios veículos. Ela lembra que grande parte das universitárias e funcionárias do estado eram criticadas e serviam como objetos de piadas. No entanto, não era somente a barreira do preconceito que as motoristas precisavam vencer.

A cidade ainda em plena transformação possuía poucas ruas asfaltadas ou tijoladas. As sinuosas ladeiras causavam sensações de medo e agonia. O trânsito para a época já era considerado perigoso e principalmente movimentado.

“Naquele tempo eram poucas as mulheres corajosas que seguiam pela Avenida Getúlio Vargas. Muitas faziam o desvio na rua de trás. Foi numa dessas ladeiras que tive um problemão com o sinal que havia ficado verde e a movimentação de gente era grande. Eu não conseguia sair do lugar. Passei uns quinze minutos que não sabia se subia ou descia e os motoristas de trás tudo buzinando. Até que um taxista veio e me ajudou a sair daquele sufoco, graças a Deus”, lembra.   

“Se ele falasse...”

O Fusca não é grande, não alcança grandes velocidades e tampouco é moderno tanto que foi aposentado das fábricas brasileiras em 1997. No entanto, acredite, é melhor não subestimá-lo principalmente quando muitos bons momentos aconteceram graças ao seu potente motor.

“Se o fusca falasse, ele diria muita coisa indevida (...) Tudo que eu já vivi com ele daria um bom livro. Vou te contar; Aproveitei muito neste carrinho! Namorei, ia pra todo canto com ele, viajava e saia com a galera chegando sete a oito horas da manhã (...) Ele teve até umas quatro batidinhas, coisa leve nada grave”, dispara Mariete acompanhado de uma sonora gargalhada.

Por onde ela passava em Rio Branco logo chamava atenção de todos (Foto: Wanglézio Braga)

Sortuda

Mesmo sendo um carro popular e considerado por muito um veículo ultrapassado, o fusca continuava sendo o “queridinho” da educadora. Tanto que ela foi contemplada com outros dois consórcios. Desta vez de carros bem melhores e mais modernos. Só que isso não foi o suficiente para ela abandonar seu xodó. “No segundo consórcio fui contemplada também na segunda parcela. Já o terceiro, na quarta prestação eu vendi o carro. Hoje, estou querendo entrar em mais um para adquirir um automóvel melhor. Será terei sorte mais uma vez?”, comenta.  

Assédio

Quem possui uma relíquia dessas sempre sofre com o assédio. No caso dela, será que ela sofreu desse mal?. “Uma vez um senhor me parou no trânsito e fez uma proposta. Disse que eu estava precisada de dinheiro. Só que não era verdade. Ele era apenas um dos milhares que queria comprar meu fusca a qualquer custo. Já me ofereceram muito dinheiro, só que não tive coragem de aceitar”, recorda.  

Quase 40 anos depois...

O tempo passa e também a sensação de desapego acompanha a vida. Talvez por nossa natureza ou tendências do mundo globalizado, que usa do materialismo para tem uma oportunidade de nos reciclar, isso pode produzir o chamado sofrimento da perca.

Para a filosofia oriental, na qual é um dos mais importantes ensinamentos, o desapego não é uma rejeição e sim uma liberdade que se sobressai quando deixamos de nos prender. Mas desapego é algo maior. É saber deixar para trás o que quer que seja sem sofrimento. Será?

O apego é visto muitas vezes como algo positivo, como se fosse sinal de cuidado. A preocupação com alguma situação é uma manifestação do apego. Tem gente que não se permite relaxar diante de algo que ainda não foi resolvido porque acha que isso seria uma forma de desleixo e, assim, não consegue se desapegar.

"O tempo de dizer adeus chegou e não estou arrependida", diz ela (Foto Arquivo Pessoal)
No caso de Mariete da Costa foram quase 40 anos tendo o fusca como seu fiel cúmplice. Mas, no inicio desse ano o amarelinho foi vendido por uma quantia razoável na tabela econômica do mercado automobilístico. Porém, se desfazer dele não foi tarefa fácil.

No final do ano passado quem passava na frente da sua casa avistada o fusca amarelo, mas, poucos dias depois a garagem estava completamente vazia.

“Todo mundo diz que o fusca é a minha cara. Ele passou a ser um símbolo da minha vida. Sei lá, acho que não sou muito apegada aos bens. Talvez ele fosse o bem que mais me apeguei na vida. Antes de passar a diante ao novo dono, o máximo que pude fazer foi dar a última volta e fazer umas fotos”, comenta Mariete visivelmente emocionada, porém, com um semblante firme.

Desapegar-se significa ficar em paz, mesmo enquanto acontece algo que desejaríamos que fosse diferente ou enquanto algo não foi resolvido. Bom ainda é pode até parecer cedo, afinal, é possível contar nos dedos os dias em que ela “desapegou do seu fusca”. Para começar 2016 com essa mentalidade, ela faz questão de deixar seu recado.


“Não adianta a gente se apegar. A gente morre, e tudo fica aí. Podemos ter rios de dinheiro. Eu não me arrependi do fusca. Sou grata pela ajuda que me deu quando minha mãe precisou, quando cursava a faculdade ou ia para o trabalho nele. O tempo de dizer adeus chegou e não estou arrependida”, finaliza.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Senador Guiomard é a cidade acreana que mais cai raios


O Acre ocupa a 17° posição entre os estados do país  (Foto Cedida)

O número de raios na Região Norte está aumentando e a tendência é que a incidência do fenômeno continue crescendo na região, por causa do aquecimento global. Foi o que disse uma pesquisa publicada recentemente pelo Grupo de Eletricidade Atmosférico (Gelat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo dados da instituição, o Acre ocupa a 17° posição entre os estados que mais caem raios no país.

O estudo aponta que caem 4,86 raios por km2 por ano em nosso estado. O que corresponde a 0,74 (média, em milhões) referente ao ranking nacional. Os estados que mais caem raios são; Amazonas (11,00) Pará (7,38) e Mato Grosso (6,81) consecutivamente.

Senador Guiomard (AC)      (Foto Quinary On Line)
Em relação aos municípios do Acre, Senador Guiomard lidera entre as cidades que mais caem raios (7,66 - Densidade de descargas por Km ao ano). Seguido de Brasiléia 7,32 e Sena Madureira 7,02 consecutivamente.   

O raio é uma descarga elétrica de grande intensidade que ocorre na atmosfera. A intensidade típica de um raio é de 30 mil Ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico. Em geral, os raios provocam um clarão e, logo em seguida, um barulho denominado trovão, por causa do deslocamento de ar.

Na maioria dos casos, as pessoas são atingidas por correntes indiretas que vêm, por exemplo, pelo chão. São raros os casos em que a pessoa é atingida diretamente por um raio e quase sempre ela morre imediatamente ou, quando sobrevive, fica com graves sequelas. 

Na natureza, as descargas elétricas riscam quilômetros de céu até atingir o solo, com uma voltagem de 100 milhões de volts. Comparando com uma tomada caseira, a voltagem é praticamente 1 milhão de vezes maior.

A pesquisa divulgada ainda compara dados do primeiro levantamento de mortes por raios, de 2000 a 2009, com dados do segundo, de 2000 a 2014. De 2000 a 2014, 1.789 pessoas morreram atingidas por raios em todo o país. O número médio de mortes por ano caiu de 132 para 111, mas, apesar da redução nacional, as mortes na Região Norte aumentaram e passaram de 18% para 21% dos casos.

Brasil

Por ser o maior país localizado na região tropical, o Brasil é o sétimo em número de mortes, atrás da China (média de 700 mortes por ano), Índia (450), Nigéria (400), México (220), África do Sul (150) e Malásia (150).

Apesar da tendência de aumento de raios no Norte, de forma pontual neste verão, por causa do fenômeno El Niño, a Região Sul será muito atingida. No inverno, já registraram 500% mais raios se comparado a 2014. No Sudeste o aumento foi 100%.

Apesar do número de mortes em atividades agropecuárias ser maior, com 25% dos casos, uma das preocupações do Inpe é com o aumento, de 12% para 19%, do número de pessoas que morrem por raios dentro de casa.

Mitos e curiosidades sobre raios

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? Não é verdade e uma prova disso é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que recebe ao menos seis descargas atmosféricas por ano. A origem desse mito está nos índios, que usam pedras atingidas por raios como amuletos, acreditando que estão protegidos contra os relâmpagos.

É perigoso ficar dentro do carro durante a chuva? Na verdade, o veículo fechado é o local mais seguro contra raios – nunca ninguém morreu no Brasil atingido por raio dessa forma. Se o carro é atingido por um raio, a descarga elétrica se espalha por sua superfície metálica, sem atingir quem está dentro dele.

A pesquisa foi apresentada pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Qual é a diferença entre trovão, raio e relâmpago? Relâmpago é toda descarga elétrica emitida por uma nuvem; raio é a descarga elétrica que toca o solo. Trovão é o som produzido pela descarga elétrica.

Dá para saber a que distância caiu o raio? É possível estimar a distância em quilômetros com um cálculo simples: basta contar o tempo (em segundos) entre o momento que se vê o raio e se escuta o trovão e dividir por três obtendo-se a distância aproximada em quilômetros.

 Existem raios que não partem das nuvens? Sim, são os chamados raios ascendentes, que saem de estruturas altas (torres, prédios altos) em direção às nuvens. Correspondem a cerca de 1% dos raios. O ELAT foi o pioneiro no registro deles no Brasil, observados em torres do pico do Jaraguá na cidade de São Paulo.


Os raios são diferentes em diferentes regiões? Sim. No Brasil, os raios do Rio Grande do Sul tendem a ser mais fortes e destrutivos do que os que caem em outras partes do país.

Publicado Originalmente: Jornal O Rio Branco
Reportagem: Wanglézio Braga. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Uninorte ofertará Curso de Piloto Privado ainda este ano no Acre


 O anúncio foi feito durante o 1°Simpósio de Segurança de Voo do Acre 
(Foto Cedida)

Por  Wanglézio Braga

Os acreanos amantes da aviação, bem como aqueles que desejam entrar para a carreira de aviadores já podem comemorar. Foi anunciado nessa quarta-feira (04) durante o “I Simpósio de Segurança de Vôo do Acre” que a Uninorte/AC ofertará o curso preparatório para Piloto Privado. O curso deve iniciar em dezembro deste ano com vagas para 30 alunos.

 Pedro Ricardo Vogliotti  - Coordenador da Instituição  
(Foto Wanglézio Braga)
O anúncio foi feito pelo coordenador da Uninorte, Pedro Ricardo Vogliotti. Segundo ele, as conversas com os setores responsáveis por cursos deste porte estão adiantadas e a instituição deve oferecer aos acreanos as aulas iniciais já no próximo mês.


O curso será inovador na visão de Pedro Vogliotti, tendo em vista que as equipes de instrutores que irão capacitar os futuros pilotos são bem requisitadas no mercado e as aulas serão teóricas, práticas, técnicas com amplo conhecimento voltado a fonia de torre de controle até oficinas de manutenção.

Vale lembrar que o curso é o primeiro passo de um piloto, portanto, não é necessária nenhuma experiência prévia com pilotagens de aviões.

sábado, 31 de outubro de 2015

A arte de rua que sobrevive nos arredores do Terminal Urbano

Dos estrangeiros aos brasileiros que expõem o melhor de uma cultura

Estivemos no local para conhecer este “menu” cultural e compartilhamos a trajetória de vida e profissional de pessoas simples (Fotos Wanglézio Braga)

O endereço é o de sempre: Avenida Brasil com Rua Sergipe N° 321 – Centro de Rio Branco (AC). Milhares passam todos os dias por este local para pegar o transporte coletivo, outros trabalham nos comércios da redondeza, mas também passam por lá e ainda existem aqueles que vão a passeio.  Em meio à vida corrida é perceptível que a cultura da arte de rua vem sobrevivendo ali no coração da cidade.

Há tempos, o entorno do Terminal Urbano de Rio Branco vem se tornando ponto de encontros de viajantes estrangeiros e de artistas brasileiros que trabalham com pinturas, peças de teatro, canto e até dança. Um verdadeiro cardápio cultural a sua disposição. Com ou sem moedas, o importante é compartilhar uma visão diferenciada das coisas da vida, do estilo de uma sociedade ou quem sabe de um mito.

Estivemos no local para conhecer este “menu” cultural e compartilhamos a trajetória de vida e profissional de pessoas simples que sobrevivem de poucas moedas deixada por admiradores mais sobretudo de cultura. Gente que veio da Colômbia, Roraima e Rondônia com o único objetivo: Apresentar a sua arte.

No chão: O giz e carvão  

Nem mesmo o vai e vem dos pedestres no calçadão, o barulho dos ônibus e o calor excessivo tiram a atenção do jovem Cristian Olaya, 23 anos. Ele é artista de rua há oito anos, nasceu na Colômbia e está no Acre de passagem depois de uma temporada pela região norte, nordeste e centro-oeste do Brasil. Ele fica em Rio Branco até dezembro onde tenta regressar para sua cidade de origem, Bogotá.  
  
 Cristian Olaya usa as técnicas de Giz e Carvão para desenhar na calçada 
(Foto: Wanglézio Braga)

O que difere Cristian dos demais artistas são as técnicas que ele utiliza para desenhar. Giz escolar colorido, aqueles usados em lousas, e carvão vegetal são as suas ferramentas de trabalho. Mais talvez você esteja se perguntando, onde ele traça seus personagens? No chão!  Isso mesmo, na calçada.

De baixo do frondoso pé de Apuí, Cristian desenha personagens da fauna e flora, bem como rosto de personalidades que contribuíram de alguma forma para o mundo. Por dia ele tem o alvo de desenhar dois personagens.

“Por um lado é como se estivesse falando, opinando sobre diversos assuntos. Com os desenhos posso falar de um tema específico ou idéias que tenho na minha cabeça. Talvez uma forma de manifestação contrária a proposta de um político que não gostei posso também fazer um desenho sobre isso”, comenta.

Antes de começar a desenha ele analisa o local, o fluxo de pessoas e até as condições do solo. A técnica pode até parecer simples, mais não é. Enquanto desenha, fica atento ao seu redor, afinal, a chance de alguém pisar nos moldes e estragar o desenho é grande. Mais ele disse que já está acostumado, apesar de compreender que o espaço é público.

“Infelizmente a pintura é muito celetista por conta das galerias. Você tem que ter muitos quadros para formar uma exposição. Além disso, as pessoas daqui não têm muito a cultura de ir aos museus, galerias, então resolvi trabalhar assim para todo mundo. Mostro a minha arte para rapaz que vende água até para aqueles que possuem muito dinheiro”, diz.

E quando a chuva cai e leva literalmente seus desenhos? Para ele é um momento especial, tempos de renovação. “Gosto quando a chuva cai e leva o meu trabalho depois de pronto. Passa a sensação de dever cumprido. É um trabalho natural, um processo normal”, salienta.

O artista aproveita para deixar um recado aos seus expectadores e também para quem passa pelo local. “Tirem pelo menos alguns minutos para ver, analisar e sentir a arte. Não deixem que a rotina da vida tire de vocês essa chance de observar a arte. Sejam críticos, leiam livros, observem o que estamos fazendo e também contribuam”, finaliza.

Música – O canto que uniu Acre e Roraima

A arte é capaz de selar também o amor. A prova dessa afirmativa vem do casal de músicos João Grilo (35) e Gabriela Lima (26). Ela veio de Roraima, ele é daqui. Ambos se conheceram num espetáculo de teatro. Depois de algum tempo namorando, resolveram viver juntos e criaram um projeto de música “Voz, Violão e Bongô” desenvolvido no Calçadão da Epaminondas Jácome.

Os planos do casal de músicos é viajar para o nordeste do Brasil / (Foto: Wanglézio Braga)
O projeto vem dando certo. Uma vez por semana, com a ajuda do filho Antônio (06), eles cantam um repertório de aproximadamente 40 músicas entre popular brasileira até baião do Gonzaga. Com um caderninho na mão, os músicos seguem a risca o repertório que é adaptado para lugares como praças, calçadão e o próprio Terminal. Sucessos de Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Roberto Carlos e outros que os admiradores estão acostumados a ouvirem são incluídos nas apresentações.

“Esse é um meio de levar ás pessoas energia positiva. Afinal, é estressante o vai e vem, o trânsito e também o próprio trabalho delas. Cantar é muito bom e quando as pessoas param para receber, por meio da música, uma mensagem de força isso nos dá a alegria de continuar trabalhando aqui”, enfatiza Gabriela que recebe afirmativa de João Grilo “Chegam diversos tipos de públicos, nem todos conseguimos agradar. São pessoas de várias classes. A receptividade é boa. Aqui no centro é interessante porque muitos passam na correria, param e começam admirar nosso trabalho, deixam uma contribuição e voltam depois. Muitos parabenizam e elogiam nossos esforços”.

Gabriela define o trabalho deles como “manguiá” um termo que significa “a arte no caminho do meio”. “Isso ocorre quando você trabalha como autônomo com a arte, e começam a produzir, as pessoas interagem e contribuem. Posso afirmar que dá pra viver desta maneira”, ressalta.

Os planos do casal de músicos é viajar para o nordeste do Brasil. Por lá, eles querem incluir a sanfona nas apresentações. Estão planejando esta viagem para os próximos meses.

Os artistas também aproveitaram a oportunidade para deixar um recado especial ao público. “Quando nos ouçam ou vejam nossos artesanatos, parem e apreciem. Faça uma reflexão, ela vai ajudar a absorver algo de bom que queremos passar. Tentamos passar um sentimento melhor. Se estiver amargurado ouça uma música e veja que seus problemas serão passageiros”, finalizam.

Robson Dutra – A Estatua Viva

Há 10 anos ele faz tudo sempre igual; Arruma a mochila com maquiagem e adereço de seu personagem e sai pra trabalhar. Robson Dutra (27) nasceu em Rondônia, veio ao Acre para uma apresentação na Expoacre e nunca mais saiu daqui. É em torno do Terminal Urbano que ele mostra suas habilidades como “Estatua Viva”.

Robson nasceu em Rondônia e atua como Estatua Viva (Foto:Wanglézio Braga)
O gosto pela arte vem desde criança. Durante a vida, conheceu pessoas que impulsionaram a seguir esta carreira. Atua também como palhaço, é humorista, faz apresentações em eventos de casamento, formatura e em gerais.

Mais é nos arredores do Terminal Urbano que ele tira o sustento da família. Depois de passar a tinta prateada, vestir a roupa especial lá se vai para mais um dia de movimentos ora bruscos, ora suaves. Mais sua jornada não é tão fácil como imaginam, afinal, nem todos sabem valorizar seu trabalho.


“A maior dificuldade seria demonstrar as pessoas sem conhecimento, como apreciar a minha área de trabalho. Quero passar a elas que não estou mendigando, mais sobrevivo da arte. Lá fora, tenho um trabalho bem reconhecido, aqui posso dizer também que tenho, porém, ainda as pessoas não sabem valorizar esse tipo de apresentação”, ressalta.

DIA DO AVIADOR: As histórias de 2 pilotos do Acre que venceram os obstáculos em busca dos sonhos

   
Fotos Cedidas pelos personagens


“Voar é a segunda maior emoção conhecida pelo homem. Pousar é a primeira”. Faz 109 anos que essa frase se tornou realidade quando o gênio e mestre Alberto Santos Dumond fez o primeiro voo com o 14 Bis (também conhecido como “ave de rapina”) inspirando uma nação e o mundo por sua paixão por voar. Paixão essa que chegou aos lugares mais extremos do mundo.

Ismar Souza nasceu em Tarauacá (AC) e Sanclé Mesquita em Rio Branco, ambos com 29 anos de idade foram “abduzidos” por esse sentimento e hoje compartilham experiências e relatam as dificuldades de voar nos céus da Amazônia.  No último dia 23 de outubro foi comemorado o Dia do Aviador. 
Um tarauacaense jovem aviador


O tarauacaense Ismar já sonhava desde criança em seguir carreira de piloto. Único aviador da família, ele focou nos estudos até se formar em Tecnólogo Ambiental, mas foi pensando em desafiar as Leis da Gravidade e também desbravar os céus da região que seguiu carreira na aviação. Ele conta que a ajuda dos pais foi fundamental na escolha. Filho de militar do Exército, o jovem se inspirava nos colegas de trabalho do seu pai que sempre pousavam/decolavam aviões e helicópteros em Tarauacá. “Eu sempre me fazia presente nesses momentos. Quantas vezes me pegavam sonhando que um dia também pousaria ou decolava aquelas máquinas!”, lembra.
  Ismar Souza é piloto e nasceu
em Tarauacá (Foto Cedida)
O caminho é árduo e exige muito. Noites de estudos, horas extras de conhecimento. Na época em que fez o curso na Escola de Pilotos de Fortaleza (CE), Ismar era o único aluno da Região Norte bem como do Acre. A sua turma começou com 48 alunos, desses, apenas 10 concluíram e se formaram na parte teórica. Dos 10 alunos, apenas três passaram na prova da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), e ele estava entre os aprovados o que o capacitou como piloto Civil e Privado. Mas antes foi preciso seguir para Minas Gerais exatamente na Escola de Pilotos de Pará de Minas, onde fez a parte prática. Atualmente é piloto de Táxi Aéreo, mas almeja agora a aviação executiva. Vale lembrar que existem quatro qualificações de pilotos; Comercial, Táxi Aéreo, Executivo e Agrícola.

Quem trabalha como piloto precisa muito mais que gosto pela profissão, mas também de coragem e disciplina. As dificuldades são inúmeras. Ismar enumera algumas. “Primeiramente as adversidades de voo como tempos adversos, chuvas, os aeroportos que geralmente são muito perto da mata e a noite, às vezes, devido aos nevoeiros é preciso alternar outra cidade por falta de visibilidade da pista de pouso. São dificuldades que sempre estão presentes nesse mundo da aviação, mas somos preparados psicologicamente para as adversidades. Deus nos acompanha a todo instante”, comenta.



Benefícios da profissão também existem. “Os pilotos ganham muito bem e recebemos para conhecer o mundo, porém, como em toda profissão, o início é ruim para todos por isso muitos desistem. Mas se você almeja ser piloto, esteja preparando desde já o caminho. E com força e fé possam um dia olhar pra trás e dizer que conseguiu levantar voo”, finaliza.


Da janela de casa para um avião


Sanclé Mesquita foi acostumado com os barulhos das turbinas dos aviões. Ele morava aos fundos do antigo Aeroporto de Rio Branco. Na infância, corria pra janela de casa só para ver os aviões passarem, e vibrava quando voavam rasgando os tetos dos prédios. Mas não era só isso. Vez e outra ele sempre ia ao aeródromo para olhar as aeronaves. Nessas idas e vindas, prestava atenção nos pilotos fazendo o checklist e pensava; “Esses caras são bons! Imaginem o treinamento que recebem para colocar um bicho desses no céu. Acho que são militares”.

Foram anos de observação até que surgiu, na adolescência, as provas da aeronáutica. Ele via uma ótima oportunidade pra ingressar na carreira, diferente de sua mãe. “Quando chegava a hora de se inscrever eu me arrumava e minha mãe fala que não era preciso, pois ela faria a inscrição. Mas isso não acontecia, ela tinha medo de me tornar um piloto. Ela sempre foi muito assustada”, lembra.

Os anos se passaram e Sanclé, com 16 anos, começou a trabalhar, o sonho de voar ficou um pouco de escanteio. Iniciou a faculdade de Sistema de Informação, mesmo sendo elogiado por professores e tendo bons resultados no curso, a vontade de mudar de profissão era maior.
               Sanclé Mesquita iniciou o curso de piloto aos 24 anos e há cinco
 trabalha com Aerotaxi (Foto Cedida)

“Aquilo não me deixava feliz. Ficar trancado em escritório era muito chato. Decidi largar tudo e seguir meu sonho. Ninguém da minha família aceitou no começo, tive que vender um carro para conseguir dinheiro e fazer o curso fora, pois não existia no Acre e fui parar em São Paulo sem saber nem como chegar à Itápolis no Centro de Aviação”, relata Sanclé que iniciou o curso aos 24 anos de idade.

Depois de formado e já atuando na área, se tornou o orgulho da família. Passou a ser admirado e amado ainda mais pela escolha que fez. Mesmo com os desafios que enfrenta diariamente para integrar os municípios acreanos por meio do serviço de Aerotaxi, ele quer ir além. Assim como Ismar, o piloto riobranquense fala dos desafios da profissão, sobretudo no Acre.

“Os desafios são muitos. E em comparação às outras regiões do Brasil, o Norte é mais complicado. Falta suporte. Às vezes não temos nenhuma ajuda. Enfrentamos diariamente os problemas como abastecimento, pois só existem em Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Nesses casos, para a segurança, temos que planejar bem e seguir as coordenadas direitinho, pois os aeroportos de alternância são quase zero principalmente voos noturnos, onde somente Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Porto Velho operam”, comenta ele que trabalha como piloto há cinco anos na Rio Branco Aerotaxi.

Não precisa de muito para saber da importância dos pilotos para o desenvolvimento do nosso estado. Em 2014, o Acre ficou isolado por causa da enchente do Rio Madeira, a BR-364 esteve por vários meses submersa e os alimentos que antes vinham por carretas foram todos transportados por aviões. Pilotos privados, companhias aéreas e até a Força Aérea Brasileira foram usados para abastecer o estado, principalmente o interior.

Naquele ano dificultoso, o piloto disse que ajudou no transporte um momento que jamais vai esquecer. “Trabalhamos quase 24 horas. Voando muito até Porto Velho para pegar alimentos, medicamentos, roupas para o Acre. O estado passava um momento crítico e nós tivemos que nos desdobrar sem exceção. Não havia luxo apenas o sentimento de cooperar”, diz.

Apesar das dificuldades, o piloto aconselha aos que desejam entrar na profissão tenham principalmente amor e foco. “Só entrem na profissão quem realmente ama, no início de tudo é bem cruel, mas depois vai dando tudo certo. Tudo depois será recompensado, não somente na parte financeira, mas também pela satisfação de trabalhar naquilo que gosta”, finaliza.

Se tornando um piloto

Atualmente, a ANAC registra cerca de 60 mil pilotos em diferentes habilitações, além de mais de 160 aeroclubes distribuídos por todo o País, centenas de escolas de Aviação e dezenas de empresas aéreas.
Para tornar-se piloto da Força Aérea Brasileira, é preciso ingressar na Academia da Força Aérea (AFA) é por meio de concurso. Esse processo de formação dura quatro anos. Uma opção para quem não quer prestar o concurso, é maior de 14 anos e menor de 18, é ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Ar por meio de concurso público. A instituição substitui o Ensino Médio.



Para ser piloto de avião comercial, o candidato tem duas opções: realizar o curso ofertado em aeroclubes ou cursar uma graduação de aviação civil oferecida por instituições de ensino reconhecidas pelo Ministério da Educação. Apesar de ambos os tipos de escolas serem reconhecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), as instituições de Ensino Superior acabam por oferecer maior base teórica e, consequentemente, aumentam os índices de empregabilidade de seus egressos.

E, por falar no assunto, a estimativa é de que o setor crie mais de 2 milhões de empregos até 2030. Por isso, é importante estar atento às oportunidades da área para não perder vagas interessantes.

Na aviação civil, os salários podem chegar a R$ 22 mil para pilotos de linhas internacionais. Também é possível exercer uma série de outras funções a bordo e, ainda, trabalhar no setor administrativo de companhias.

Os horários inusitados e sem um padrão podem afastar pessoas que não procuram esse estilo de vida. É importante saber conciliar vida profissional e pessoal, encontrando um equilíbrio para que os problemas de um lugar não afetem o outro, como em qualquer emprego.

Você sabia?

Hidroavião Taquary foi o primeiro a chegar ao Acre, em 5 de maio de 1936. E o coronel João Donato, pai do músico João Donato e do poeta Lysias Enio, foi o primeiro acreano habilitado como piloto, ainda naquela década. Foto do acervo do Departamento de Patrimônio Histórico do Acre.




Além do hidrovião Taquary, o "Juruá", um douglas C-47, era de propriedade do Território Federal do Acre. Foi pioneiro na viagem do Rio de Janeiro ao Acre em apenas um dia. Foto de um álbum apresentado como relatório de obras terminadas no Acre (1946-1948) quando o governador-delegado da União no Território era o major José Guiomard dos Santos. No relatório consta que, antes de 1946, Rio Branco ficava seis meses isolada do resto do país por causa das precárias condições da pista de pouso. Por via fluvial, passando por Manaus e Belém, a viagem até o Rio de Janeiro demorava quatro meses.

A aviação teve início no Brasil por meio do emblemático voo de Edmond Plauchut, em 22 de outubro de 1911. O pioneiro foi mecânico de Alberto Santos-Dumont em Paris e estreou no céu nacional ao sobrevoar a Avenida Central do Rio de Janeiro. Apesar do espírito vanguardista, Plauchut caiu no mar a uma altura de 80 metros ao chegar à Ilha do Governador.


Foi apenas em 1927 que teve início a história da aviação comercial no Brasil: a empresa Condor Syndikat foi a primeira a transportar passageiros no país. A primeira linha com voos regulares nessas terras foi a chamada “Linha da Lagoa”, que realizava vôos entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande.

Publicado originalmente no Jornal O Rio Branco 25/10/2015
Reportagem: Wanglézio Braga 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Transporte Coletivo de Rio Branco em 1992: As boas lembranças



Não existe uma máquina capaz de fazer voltar no tempo. Mas graças a Deus existem as fotografias e os jornais impressos para nos ajudar a recordar o passado bem como ter noção de uma época que nossos sobrinhos, filhos ou amigos não conheceram ou presenciaram.

Quero compartilhar aqui, com vocês, uma foto do sistema de transporte coletivo de Rio Branco, capital do Acre. Na imagem do Jornal O Rio Branco de 1992 mostra a parada de ônibus no centro da cidade. A linha 207 era do bairro onde moro - Cohab do Bosque. Há um tempo, desde quando modernizaram o sistema, que mudaram o número da nossa linha para 901 e acrescentaram o Cohab do Bosque/Cadeia Velha. Talvez daí que passei a chamar de “Estado Independente da Cohab do Bosque” -  a potência tupiniquim dos bairros acreanos.  

Lembro com muito carinho das viagens que fazia neles e os itinerários. Apesar de muito pequeno, minha mãe (Dona Lora) levava para o seu trabalho (Palácio das Secretarias) e posteriormente para o “Colégio Menino Jesus” que ficava também no centro. Nessa época eu tinha pouco mais de cinco anos.

A hora mais divertida, sem dúvidas, era esperar o ônibus da "Viação Rio Branco" na parada a poucos metros de nossa casa, embarcar nele e passar por debaixo da roleta segurando com toda força do mundo para não cair. Sentar no fundão era minha sina. Mamãe sempre preferiu sentar lá na frente. Nunca entendia o porquê! Descobri depois de crescido que o balançado do ônibus provoca enjoou nela. Mais o chacoalho era o mais legal, pois fazia um barulho estarrecedor como se o mundo tivesse estraçalhando e o ônibus partiria bem no meio.

Quando descia a ladeira da maternidade, aí tinha que segurar mesmo. Pense num frio na barriga! E sempre ela olhava logo lá atrás pra ver se estava tudo bem comigo. Cansei de apanhar porque a lancheira vermelha com estampa do “Changeman” caia no chão e se abria porque se esquecia de segurar. Chorava mais pelo pânico que ela provocava quando derramava a “Fanta Uva”, ela dizia que eu morreria de sede porque não havia mais líquido para beber na hora de comer a merenda. Eu não queria/quero morrer nunca! Coisas de mães, provocar pânico! Nunca morria de sede, afinal, sempre roubava um pouquinho do colega.

Quando chegávamos já nas proximidades da Praça Plácido de Castro, atual Praça da Revolução, ninguém poderia puxar a cordinha [leia-se ninguém]. Aquele troço era muito alto mais me pertencia. De prontidão colocava no colo, levantava até eu conseguir puxar a bendita corda que saia uma buzina ora engraçada porque fazia um barulho de cigarra, ora chata porque reproduzia um som parecido com o telefone da casa da vovó. A moral? Puxava a corda e num passe de mágica a porta se abria. Que beleza!

A nossa parada final ficava entre o Palácio Rio Branco e o atual Memorial dos Autonomistas. Daí, atravessávamos a rua até chegar ao trabalho dela. Em seguida, depois de guardar algumas sacolas no armário, ela me deixar teclar um pouco na máquina de datilografia (leia-se apertar o espaço até ele fazer o barulho) antes de chegar dona Lenir - a chefa - que normalmente vinha trabalhar com grandes bobs na cabeça e óculos na ponta do nariz. Na realidade eu gostava da dona Lenir, apesar da voz dela ser estranha. Gostava quando chamava de “loirinho lindo”, pois meus cabelos eram grandes, cacheados e bem loiros! De quebra; olhos claros.

Feito todo o ritual, coincidia com o horário da aula. Lembro que descia nas carreias o palácio até a esquina. Quantas vezes embasbacado fiquei ao ver embarque/desembarque dos ônibus ali na frente da Secretaria da Fazenda e antigo prédio da Ótica Ipanema. Achava algo fascinante e amedrontador ao mesmo tempo.

Depois aproximava a melhor hora; comprar chiclete ploc ou babalú. Que cheiro gostoso saia daquela banca! Até hoje funciona na frente do Colégio José Rodrigues Leite. Era nesse momento que mamãe me comprava literalmente. “Esquece o choro no portão do colégio ou nada de ‘Chiclete Ploc”, dizia sempre quando sentava nas escadarias do Colégio já fazendo cara de choro.

O “Ploc” era o meu predito por causa das figurinhas, principalmente aqueles da embalagem verde. Poxa, quanta covardia! Chorava na porta do colégio porque sentia falta dela, não queria nunca perdê-la de vista. Por mais que o parquinho, os coleguinhas e a professora Glória e Ana desviavam minha atenção, eu queria sempre ficar perto da minha mãe. Mas em nome das figurinhas acabava concordando.


Depois de uma tarde no “Menino Jesus”, dona Lora me buscava totalmente detonado de tanto correr pelos corredores. Subíamos a Avenida Benjamin Constant e esperávamos bem na frente da ótica o ônibus 207. O trajeto? Passava direto do colégio acreano, seguia na rua da delegacia da Cadeia Velha, entrava na Avenida Ceará, passava pelo Estádio José de Melo, entrava na Getúlio Vargas assim que descia a ladeira da maternidade, passava bem na frente das Casas Roraima, entrava no Mercado do Bosque e saia na Quintino Bocaiuvas já perto da Casa de Tintas Luciana, e entrava no bairro. Quantas saudades!