Dos estrangeiros aos
brasileiros que expõem o melhor de uma cultura
Estivemos no local para conhecer este “menu” cultural e compartilhamos a trajetória de vida e profissional de pessoas simples (Fotos Wanglézio Braga) |
O endereço é o de sempre: Avenida Brasil com Rua Sergipe N°
321 – Centro de Rio Branco (AC). Milhares passam todos os dias por este local
para pegar o transporte coletivo, outros trabalham nos comércios da redondeza,
mas também passam por lá e ainda existem aqueles que vão a passeio. Em meio à vida corrida é perceptível que a
cultura da arte de rua vem sobrevivendo ali no coração da cidade.
Há tempos, o entorno do Terminal Urbano de Rio Branco vem se
tornando ponto de encontros de viajantes estrangeiros e de artistas brasileiros
que trabalham com pinturas, peças de teatro, canto e até dança. Um verdadeiro
cardápio cultural a sua disposição. Com ou sem moedas, o importante é
compartilhar uma visão diferenciada das coisas da vida, do estilo de uma
sociedade ou quem sabe de um mito.
Estivemos no local para conhecer este
“menu” cultural e compartilhamos a trajetória de vida e profissional de pessoas
simples que sobrevivem de poucas moedas deixada por admiradores mais sobretudo de
cultura. Gente que veio da Colômbia, Roraima e Rondônia com o único objetivo:
Apresentar a sua arte.
No chão: O giz e
carvão
Nem mesmo o vai e vem dos pedestres no calçadão, o barulho
dos ônibus e o calor excessivo tiram a atenção do jovem Cristian Olaya, 23
anos. Ele é artista de rua há oito anos, nasceu na Colômbia e está no Acre de
passagem depois de uma temporada pela região norte, nordeste e centro-oeste do
Brasil. Ele fica em Rio Branco até dezembro onde tenta regressar para sua
cidade de origem, Bogotá.
Cristian Olaya usa as técnicas de Giz e Carvão para desenhar na calçada
(Foto: Wanglézio Braga)
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O que difere Cristian dos demais artistas são as técnicas que
ele utiliza para desenhar. Giz escolar colorido, aqueles usados em lousas, e
carvão vegetal são as suas ferramentas de trabalho. Mais talvez você esteja se
perguntando, onde ele traça seus personagens? No chão! Isso mesmo, na calçada.
De baixo do frondoso pé de Apuí, Cristian desenha personagens
da fauna e flora, bem como rosto de personalidades que contribuíram de alguma
forma para o mundo. Por dia ele tem o alvo de desenhar dois personagens.
“Por um lado é como se estivesse falando, opinando sobre
diversos assuntos. Com os desenhos posso falar de um tema específico ou idéias
que tenho na minha cabeça. Talvez uma forma de manifestação contrária a
proposta de um político que não gostei posso também fazer um desenho sobre
isso”, comenta.
Antes de começar a desenha ele analisa o local, o fluxo de
pessoas e até as condições do solo. A técnica pode até parecer simples, mais
não é. Enquanto desenha, fica atento ao seu redor, afinal, a chance de alguém
pisar nos moldes e estragar o desenho é grande. Mais ele disse que já está
acostumado, apesar de compreender que o espaço é público.
“Infelizmente a pintura é muito celetista por conta das
galerias. Você tem que ter muitos quadros para formar uma exposição. Além
disso, as pessoas daqui não têm muito a cultura de ir aos museus, galerias,
então resolvi trabalhar assim para todo mundo. Mostro a minha arte para rapaz
que vende água até para aqueles que possuem muito dinheiro”, diz.
E quando a chuva cai e leva literalmente seus desenhos? Para
ele é um momento especial, tempos de renovação. “Gosto quando a chuva cai e
leva o meu trabalho depois de pronto. Passa a sensação de dever cumprido. É um
trabalho natural, um processo normal”, salienta.
O artista aproveita para deixar um recado aos seus
expectadores e também para quem passa pelo local. “Tirem pelo menos alguns
minutos para ver, analisar e sentir a arte. Não deixem que a rotina da vida
tire de vocês essa chance de observar a arte. Sejam críticos, leiam livros,
observem o que estamos fazendo e também contribuam”, finaliza.
Música – O canto que
uniu Acre e Roraima
A arte é capaz de selar também o amor. A prova dessa
afirmativa vem do casal de músicos João Grilo (35) e Gabriela Lima (26). Ela
veio de Roraima, ele é daqui. Ambos se conheceram num espetáculo de teatro.
Depois de algum tempo namorando, resolveram viver juntos e criaram um projeto
de música “Voz, Violão e Bongô” desenvolvido no Calçadão da Epaminondas Jácome.
Os planos do casal de músicos é viajar para o nordeste do Brasil / (Foto: Wanglézio Braga) |
O projeto vem dando certo. Uma vez por semana, com a ajuda do
filho Antônio (06), eles cantam um repertório de aproximadamente 40 músicas
entre popular brasileira até baião do Gonzaga. Com um caderninho na mão, os
músicos seguem a risca o repertório que é adaptado para lugares como praças,
calçadão e o próprio Terminal. Sucessos de Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga,
Roberto Carlos e outros que os admiradores estão acostumados a ouvirem são
incluídos nas apresentações.
“Esse é um meio de levar ás pessoas energia positiva. Afinal,
é estressante o vai e vem, o trânsito e também o próprio trabalho delas. Cantar
é muito bom e quando as pessoas param para receber, por meio da música, uma
mensagem de força isso nos dá a alegria de continuar trabalhando aqui”,
enfatiza Gabriela que recebe afirmativa de João Grilo “Chegam diversos tipos de
públicos, nem todos conseguimos agradar. São pessoas de várias classes. A
receptividade é boa. Aqui no centro é interessante porque muitos passam na
correria, param e começam admirar nosso trabalho, deixam uma contribuição e
voltam depois. Muitos parabenizam e elogiam nossos esforços”.
Gabriela define o trabalho deles como “manguiá” um termo que
significa “a arte no caminho do meio”. “Isso ocorre quando você trabalha como
autônomo com a arte, e começam a produzir, as pessoas interagem e contribuem.
Posso afirmar que dá pra viver desta maneira”, ressalta.
Os planos do casal de músicos é viajar para o nordeste do
Brasil. Por lá, eles querem incluir a sanfona nas apresentações. Estão
planejando esta viagem para os próximos meses.
Os artistas também aproveitaram a oportunidade para deixar um
recado especial ao público. “Quando nos ouçam ou vejam nossos artesanatos,
parem e apreciem. Faça uma reflexão, ela vai ajudar a absorver algo de bom que
queremos passar. Tentamos passar um sentimento melhor. Se estiver amargurado
ouça uma música e veja que seus problemas serão passageiros”, finalizam.
Robson Dutra – A
Estatua Viva
Há 10 anos ele faz tudo sempre igual; Arruma a mochila com
maquiagem e adereço de seu personagem e sai pra trabalhar. Robson Dutra (27)
nasceu em Rondônia, veio ao Acre para uma apresentação na Expoacre e nunca mais
saiu daqui. É em torno do Terminal Urbano que ele mostra suas habilidades como “Estatua
Viva”.
Robson nasceu em Rondônia e atua como Estatua Viva (Foto:Wanglézio Braga) |
O gosto pela arte vem desde criança. Durante a vida, conheceu
pessoas que impulsionaram a seguir esta carreira. Atua também como palhaço, é
humorista, faz apresentações em eventos de casamento, formatura e em gerais.
Mais é nos arredores do Terminal Urbano que ele tira o
sustento da família. Depois de passar a tinta prateada, vestir a roupa especial
lá se vai para mais um dia de movimentos ora bruscos, ora suaves. Mais sua
jornada não é tão fácil como imaginam, afinal, nem todos sabem valorizar seu
trabalho.
“A maior dificuldade seria demonstrar as pessoas sem
conhecimento, como apreciar a minha área de trabalho. Quero passar a elas que
não estou mendigando, mais sobrevivo da arte. Lá fora, tenho um trabalho bem
reconhecido, aqui posso dizer também que tenho, porém, ainda as pessoas não
sabem valorizar esse tipo de apresentação”, ressalta.
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